RESUMO
- No Brasil, as ações desenvolvidas para
a promoção da saúde da criança, promoveram um declínio na taxa de
mortalidade infantil nas várias regiões do país. É preocupante o fato de que
90% da mortalidade de recém nascidos no mundo ainda ocorram em países em
desenvolvimento, onde há poucos recursos, e a disponibilidade tecnológica da
saúde tem diferentes prioridades. A redução da mortalidade infantil neonatal
é ainda mais difícil pois esta associada tanto a fatores biológicos como à
assistência pré-natal, ao parto e ao recém-nascido; e sua prevenção envolve
principalmente investimentos em serviços hospitalares de tecnologia mais
complexa bem como em ações educativas e de saúde pública. Levando-se em
consideração o fato da cidade de Goiânia ser a capital do Estado de Goiás,
com grande demanda aos serviços de saúde,
faz-se necessário uma maior qualidade dos serviços prestados, tanto nas
unidades básicas de saúde bem como nas unidades hospitalares, buscando
implementar programas de melhoramento dos serviços para garantir um atendimento
de qualidade. Consideramos que as ações de educação e saúde são fatores
importantes de intervenção para a redução e controle das taxas de
mortalidade infantil, principalmente o seu componente neonatal e que toda relação
profissional de saúde e paciente é uma relação pedagógica.
A Mortalidade infantil
pode ser considerada como um dos melhores indicadores da qualidade da assistência
à saúde, bem como do nível sócio-econômico de uma população. Ela é
composta pelo componente neonatal, que compreende os óbitos ocorridos até 27
dias de vida, e o pós-neonatal ou infantil tardio, que abrange os óbitos
ocorridos do 28º dia até um dia antes de completar um ano de vida (Maranhão
et al., 1999).
O componente pós-neonatal é o responsável pela maior
parte da redução da mortalidade infantil nas últimas décadas, porém o
componente neonatal representa a maior parcela da taxa de mortalidade infantil
(Maranhão et al. 1999). Bastante preocupante é o fato de que 90% da
mortalidade de recém nascidos no mundo ainda ocorram em países em
desenvolvimento, onde há poucos recursos, e a disponibilidade tecnológica da
saúde tem diferentes prioridades.
No Brasil, as ações desenvolvidas nos últimos
anos para a promoção da saúde da criança tais como campanhas de vacinação,
enfrentamento das doenças diarréicas e a desnutrição; resultaram em queda na
taxa de mortalidade infantil nas várias regiões do país. Mesmo prevalecendo a
tendência declinante, dados do IBGE (1995) indicam períodos de estabilização
e, até mesmo, de reversão desta tendência, com estabilização das taxas em
algumas regiões e elevação em outras (Simões & Monteiro, 1995).
No
início dos anos 80, a mortalidade infantil no Brasil apresentava uma taxa de 85
óbitos por mil nascidos vivos, passando em 1996, para cerca de 37,5 por mil
nascidos vivos, significando uma redução de 44,1% entre 1980/1990 e de 21,5%
entre 1990/1996 (Maranhão et al.,1999). Além de alterações nas taxas de
mortalidade infantil, houve também alteração no seu perfil, sendo que as
causas perinatais e anomalias congênitas assumiram maiores proporções quando
comparadas às doenças infecciosas e parasitárias e às doenças do aparelho
respiratório (Morais Neto, 1996).
O Brasil faz parte do grupo de países com grandes diferenças
regionais, com mais de 170 milhões de habitantes, e uma estimativa de
mortalidade perinatal, óbito ocorrido na primeira semana de vida, de 35 mortes
por 1000 nascimentos, uma das mais altas na América Latina e área do Caribe. ( Zullini et al. 1997).
A redução da mortalidade
infantil neonatal é mais difícil pois está associada, tanto a fatores biológicos
como à assistência pré-natal, parto
e ao recém-nascido. Sua prevenção
envolve, principalmente, investimentos em serviços hospitalares de tecnologia
mais complexa.
Estudos epidemiológicos nos países desenvolvidos realizados nas últimas
décadas observaram que a sobrevivência de recém-nascidos, em condições de
risco, aumentou significativamente quando eles foram atendidos nas unidades de
cuidados intensivos neonatais. Em decorrência, houve um aumento no custo dos
cuidados e no risco pela excessiva manipulação e tratamento sendo necessário,
portanto, maior concentração no avanço da tecnologia da saúde na área de
cuidado perinatal, juntamente com uma adequação na utilização e qualidade
dos cuidados recebidos e na melhor distribuição regional de serviços de alto
nível (Zullini, et.al. 1997).
Na
década de 60, com a expansão das Unidades de Cuidado Intensivo Neonatal
(UCINs), principalmente nos países
desenvolvidos, houve um decréscimo importante na mortalidade infantil neonatal,
principalmente para crianças de baixo peso. Segundo Eggimann (1994), indicando
a recomendação para a regionalização e
melhor disponibilização na utilização das UCINs.
Percebe-se,
no entanto, que no Brasil há uma concentração de tecnologias mais avançadas
nas capitais dos Estados e em cidades maiores. Tal fato gera dificuldades para
os municípios que recebem os recém nascidos, pois sobrecarrega os serviços
especializados criando dificuldades para administrar o sistema de saúde, sem
contar que as famílias migram temporariamente para esses grandes centros para
acompanhar os tratamentos de saúde. Portanto acarretando com isso, uma má
distribuição da assistência com qualidade e de recursos necessários para o
atendimento de recém nascidos de risco.
Se
houver uma otimização na utilização dos serviços de saúde que prestam
assistência ao recém-nascido, aliado aos avanços da tecnologia, com certeza
teremos quedas nas taxa de mortalidade neonatal muito próximo aos países da
Europa de 13 óbitos por mil nascidos vivos e da América do Norte de 9 óbitos
por mil nascidos vivos (OMS, 1996).
Portanto alguns estudos vêm sendo
realizados no sentido de avaliar a assistência prestada aos recém nascidos,
internados em UCINs. Entre eles destaca-se a pesquisa de Bastos (1997), que
indica a melhora gradativa na qualidade de assistência se deve principalmente
ao avanço da tecnologia, a um melhor conhecimento da fisiopatologia e a introdução
de novas terapêuticas na medicina pré-natal, como na neonatologia.
Apesar
dos consideráveis avanços já obtidos na assistência ao recém-nascido, no
período neonatal, existem outros
fatores que afetam a sobrevivência de recém nascidos nas UCINs. Com essa
preocupação de conhecer não somente taxas de mortalidade neonatal o estudo
apresentado por Zullini (1997), decorrente de pesquisa realizada em nove UCINs
na cidade de São Paulo, encontrou uma mortalidade de 59 óbitos por mil
neonatos, uma melhora na sobrevivência à medida que aumentava a idade
gestacional e o peso ao nascer, os dados indicam a importância do pré-natal
ser realizado o mais precocemente possível.
Em
um outro estudo, realizado por Richardson (1999) em seis UCINs, em
Massachusetts, verificou que existe uma diferença de morbidade e mortalidade
entre as unidades de cuidados intensivos neonatais, principalmente pelas
diferentes características obstétricas e práticas de cuidados perinatais que
podem afetar a severidade das doenças dos recém-nascidos. O estudo de Nava
(1998) descreve vários fatores de risco para a mortalidade neonatal, alguns
inerentes ao período da gestação, outros ao parto, outros relacionados com
alterações e assistência do recém-nascido e indica como a segunda causa da
mortalidade neonatal, as infecções, principalmente a septicemia, que
contribuiu para o aumento da mortalidade nas UCINs.
Mesmo
com a melhora no conhecimento dos microorganismos infectantes, da fisiopatologia
das doenças infecciosas mais comuns nas UCINs, e de
melhores possibilidades terapêuticas, há dificuldade na redução da
mortalidade causada por infecções específicas do período neonatal. Como nos
coloca Freddi (1994), existem fatores que aumentam o risco para infecções como
a idade (dias de vida), maior tempo de permanecia nas UCINs, procedimentos
invasivos, com maior tempo de persistência desses procedimentos e maior
manipulação dos recém nascidos.
Embora
se têm dados da mortalidade neonatal no Brasil e outros países, poucos estudos
foram realizados na região
centro-oeste e mais propriamente no município Goiânia que
conta com nove UCINs, em hospitais públicos e privados, que recebem recém nascidos de todo Estado de Goiás e de
municípios de outros Estados, no entanto conhecemos pouco a respeito da utilização dessas unidades, bem como a
taxa de mortalidade neonatal e os vários
fatores relacionados à gestação, à assistência pré- natal, ao parto e à
assistência recebida durante o período neonatal.
Os
óbitos neonatais representam a maior parcela da mortalidade infantil, podendo
ser considerados como evitáveis e passíveis de intervenção através do
conhecimento das causas e da melhoria na qualidade do cuidado prestado nos serviços
de saúde, com destaque para a assistência nas UCINs (Taucher,1979).
Em
Goiânia, em 1996, dos 342 óbitos infantis (crianças que foram a óbito antes
de completar um ano de vida), 231 óbitos (67,5%)
ocorreram no período neonatal (Morais Neto, 1996). É Preocupante o fato da transição da mortalidade infantil
passar do seu componente pós-neonatal para o neonatal, tornando-se necessário
conhecer melhor a realidade das UCINs, já que a grande maioria dos recém
nascidos que necessitam de
atendimento médico no período neonatal, utilizam
esses serviços. Somente desta forma será possível concentrar esforços na
redução da mortalidade neonatal.
Algumas
considerações: Ações de educação e saúde como fatores de intervenção.
Um
aspecto a ser analisado no serviço de saúde é a adoção crescente de novas
tecnologias, permitindo a sobrevivência de crianças cada vez mais prematuras,
assistidas em UCINs, mas com uma preocupação em relação ao acesso e
qualidade do atendimento prestado sendo necessário a capacitação e atualização
das equipes de saúde.
Levando-se
em consideração o fato da cidade de Goiânia ser a capital do Estado de Goiás,
uma região em pleno desenvolvimento, com grande demanda nos serviços de saúde,
certamente se faz necessário conhecer com maior propriedade a qualidade dos
serviços prestados, tanto nas unidade básicas de saúde bem como nas unidades
hospitalares, a fim de implementar programa de melhoramento dos serviços para
garantir um atendimento de qualidade.
Se
houvesse uma adequada assistência da mulher durante o período gestacional,
identificando e reduzindo os riscos na gravidez e no parto, a demanda por
tecnologia sofisticada poderia ser otimizada.
A
redução da mortalidade neonatal requer portanto, medidas mais específicas,
como: identificar gestações de alto risco e tratar precocemente as suas
complicações; melhorar a qualidade de atendimento ao parto, tanto á gestante
quanto ao RN; prevenir a incidência de RN de baixo peso e, ainda dar o suporte
adequado aos RN patológicos através das UCINs (Araújo, 1999).
Para
enfrentar a mortalidade neonatal se faz necessário o desenvolvimento de ações
que garantam, para as gestantes, acesso às informações sobre fatores de risco
na gravidez, orientação alimentar e sobre a amamentação, a preocupação
para o momento do parto. Estas ações podem ser desenvolvidas durante o
atendimento do pré-natal estimulando
inclusive, a formação de grupos de gestantes, tanto para a mulher como para o
companheiro.
Essas
ações, por sua vez, para terem impacto devem contar com o comprometimento dos
profissionais de saúde, estes sendo vistos como trabalhadores sociais cuja prática
é pedagógica.
Entende-se,
que toda a relação entre profissional de saúde e paciente é uma relação
pedagógica, o qual deverá ser construída reconhecendo que os participantes do
processo, sejam eles trabalhadores de saúde ou usuários do serviço devem ser
considerados portadores de conhecimentos, e com capacidade crítica e portanto
sujeitos da ação.
Com
essa preocupação, Silva (1994) ressalta que é no cotidiano que se constroem
relações pedagógicas permanentes em movimentos de construção e desconstrução
cultural. Porém, muitas dificuldades são encontradas para o desenvolvimento
desse trabalho educativo: a questão da disponibilidade de tempo, o envolvimento
da equipe de saúde, práticas educativas tradicionais que não estimulam a
participação, modelo de saúde vigente voltado principalmente para ações
curativas. Quanto a isto, Chiesa (1995) coloca que a superação da problemática
das práticas educativas não ocorrerá em curto prazo, porém é importante que
se pense nas possibilidades de atendimento, se realmente considerarmos que a
assistência pré-natal é um fator importante na redução das taxas de
mortalidade neonatal, e consequentemente, entendendo esta redução como uma
melhora dos indicadores de saúde do Município de Goiânia.
http://www.fen.ufg.br/revista/revista3_1/neonatal.html